Hoje vou te convidar a imaginar. Então, imagine. Feche seus olhos e imagine uma pequena cidade em uma região montanhosa. Agora imagine casinhas estreitas, grudadas umas nas outras, com pequenas janelas revestidas de cortinas de rendas. Imagine lustres nas paredes dessas casas, muitas vezes iluminando pequenas ruelas por onde já circularam, talvez, cavaleiros, camponeses, nobres, princesas e bruxas. Sim, bruxas, já que são elas mesmas que fazem mexer também com o imaginário dos habitantes dessa região. Imagine, ainda, barulhos de passos nas pedras que compõem as ruas. Ruas essas que, juntas, levam todas a um castelo. É pra imaginar castelo também? Claro, por que não? E tem que ser um castelo daqueles, no alto de uma montanha, cercado por vegetações, com muitas janelas, belas torres e uma muralha que o protege de ataques. Os ataques e conflitos são legais de ver apenas nos filmes, mas na minha imaginação prefiro que existam os romances. Ah, como amo esses romances que sempre eram proibidos em uma época em que casamentos já eram arranjados. Fico imaginando a princesa, da janela de seu quarto, do alto do castelo, ou pelo seu jardim, olhando a cidade lá em baixo e se perguntando em qual ruazinha daquelas estaria seu amor, que não passava de um comerciante local. Ou pode ser o contrário também, um príncipe apaixonado por uma camponesa descabelada e sem modos, mas diferentemente linda de tudo o que ele já havia visto. Bom, essa imaginação já leva a um conto de fadas. Mas falta algo…. claro! Falta imaginar neve, muita neve. Aqueles dias em que a neve não dá trégua, que se acumula em qualquer superfície com o mínimo de espessura o suficiente. Aquela neve que faz escorregar, que deixa a ponta do nariz vermelho, que faz as pessoas andarem encurvadas e procurarem desesperadamente por uma xícara de chocolate quente.

 

 

Eis um cenário que sempre gostei de imaginar, que sempre invadiu meus sentidos, meus sonhos, que sempre me encantou. E então, sem saber que um dia isso aconteceria, peguei um trem em uma estação diretamente para o interior dos meus sonhos. Sonhos estes que vivem nos meus pensamentos desde que eu era menina. Uma menina que sempre gostou de imaginar, que sempre quis saber o que é passar um dia numa fantasia que ela havia construído dia após dia, e que não havia ido embora com a mudança das fases da vida. Desembarquei do trem diretamente na cidade que abrigava o cenário dos meus sonhos, mesmo sem sequer saber que tudo isso existia.  Nela havia todos esses detalhes: ruas estreitas, casas fofas, cortinas nas janelas, luminárias tentando devolver um pouco da luminosidade que um típico dia invernal fazia questão de tirar. Mas, para mim, era um charme a mais, assim como era um charme também fechar os olhos e ouvir aquele murmúrio de passos em ruas de pedra, de ferraduras de cavalo circulando com seus cavaleiros no lombo. Nos meus sonhos, mas que dessa vez eu vivia de olhos abertos, tinha tudo isso. E para completar, o castelo, nas circunstâncias que eu sempre imaginei: no alto da montanha, com a visibilidade um pouco prejudicada pela neve que insistia em cair – ainda bem!

Segui andando, admirando, imaginando. E achei o máximo imaginar de olhos abertos, podendo meio que fazer parte do cenário que sempre criei de olhos fechados e que sempre tive como meu. Pude , além disso, sentir na pele mínimos detalhes que antes eu nem sabia como era. Ouvi o barulho que sai quando pisamos em muita neve acumulada, senti o que é ter neve caindo o tempo todo na ponta do nariz, no cabelo e até nos olhos. Vi de perto como é lindo ver neve acumulada em cada galho de árvore, em cada lustre, nos parapeitos das janelas, nos telhados, nos carros e até em pássaros. Vi como é realmente especial tomar uma bebida quentinha ao lado de uma janela com cortinas e ver a neve caindo lá fora. Detalhes que amei conhecer – ou (re)conhecer – dos meus sonhos. Detalhes que estavam por toda parte e que, paradoxalmente, me faziam ficar sem saber para onde olhar, sendo estes tantos e tão ricos.

 

 

 

 

 

 

Essas seriam, então, as sensações de ter conhecido essa cidade no inverno. Um cenário que materializou, frente aos meus olhos, tudo aquilo que existia somente nos meus sonhos. Mais do que isso, trouxe sensações e detalhes novos que viviam fora dos limites dos terrenos férteis da minha imaginação. E foi um trem que me levou para além desses limites. Um trem que percorreu trilhos congelados e paisagens monocromáticas. Sim, porque os caminhos que levam até os nossos sonhos se parecem muito com aquilo que desejamos encontrar logo ali depois da curva, no lugar mágico que seu coração sabe que existe por aí, em algum lugar, e que sabe que um dia você chegará lá!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário em “Crônica sobre Wernigerode

  1. Nessa cidade dá pra fazer uma viagem colocando em prática nossos sentimentos, lembrando dos livros que lemos e que contam histórias que se passaram nessa cidade alemã.Suas ruas, castelos e árvores cobertos de neve…O trem chegando…. Fiquei com mta vontade de colocar um casaco quentinho e conhecer.

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