Estão lembrados do post que fiz aqui, nos dias 12 e 22/12 sobre a Campanha Coastwatch Alagoas 2009? Pois bem, hoje estou trazendo a vocês leitores uma entrevista com Marco Lyra, um dos responsáveis por este belo projeto que se preocupa com nossas paisagens litorâneas!
Essa entrevista explica melhor a criação do projeto, bem como o que o levou a ser criado, e ainda dicas e sugestões para quem também se preocupa com essa situação que envolve todos nós, e quer colaborar.
É uma entrevista muito interessante, de um assunto atual e importante. Segue abaixo para vocês:
Marco Antônio de Lyra Souza
Profissão Engenheiro Civil – Graduado pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Especialista em Obras de Proteção Costeira
Presidente da ONG ATA – Amigos da Terra e da Água
Entrevista:
1ª) Como surgiu a idéia de fazer a Campanha Coastwatch?
R. Em Novembro de 2007, o Instituto Hidroambiental Água do Brasil – IHAB, promoveu um encontro internacional em Fortaleza para discutir assuntos relacionados ao meio ambiente conhecido como O2, nesse evento haveria uma participação importante da ONG GEOTA de Portugal, naquela oportunidade tínhamos interesse em divulgar os resultados obtidos nas obras que construímos para controle de erosão costeira em Alagoas com o uso do Barra Mar Dissipador Bagwall, cujos benefícios ambientais obtidos após a intervenção resultaram na recomposição do perfil natural da praia, ou seja, onde havia erosão passou a ter engorda, é como se você colocasse um remédio num local que estava doente.
Como Portugal enfrenta há anos sérios problemas de erosão costeira, e a ONG GEOTA é quem coordena os trabalhos de monitoramento do litoral em Portugal junto à população, fiquei interessado em conhecer o trabalho desenvolvido por eles. Fizemos um contato com o pessoal do GEOTA, inclusive os convidando para participar de um Seminário sobre mudanças climáticas promovido pela SEMARH – Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas.
O Professor Carlos Costa então presidente do GEOTA nos atendeu, e nos enviou ao Brasil a Coordenadora do Projeto Coastwatch em Portugal, a Professora Lurdes Soares que além de participar da abertura do Seminário Alagoas e o Desafio das Mudanças Climáticas, também encerrou a Semana do Engenheiro com palestra sobre a experiência do Coastwatch em Portugal.
Como sempre digo nos seminários preparatórios da Campanha, a semente foi lançada e nós entendemos que é necessário que cada um de nós moradores do litoral façamos alguma coisa no sentido de ajudar a preservá-lo para os nossos descendentes, e é o que estamos fazendo. Faço minhas, as palavras do Professor Dieter Muehe “o desfio é grande diretamente proporcional a extensão do nosso litoral”.
2ª) Como essa Campanha pode ajudar a mudar a evitar uma mudança no litoral brasileiro?
R. A grande mudança deverá ocorrer no comportamento das pessoas que participarem como voluntárias, pois com certeza passarão a ver o litoral com outros olhos, um olhar mais apurado, mais crítico. A educação e a conscientização ambiental da forma abordada na Campanha levam os voluntários, a assumirem seus papéis como atores no processo de mudança de comportamento para preservação do ecossistema costeiro, desenvolvendo o conceito de cidadania ambiental.
3ª) Na sua opinião, quais os principais fatores responsáveis por essas constantes mudanças e revelações da natureza?
Tanto na natureza quanto na vida estamos em constante mudança, a dinâmica da natureza e da vida é constante, basta verificar que a cada sete dias nossas células se renovam, é o milagre da existência divina.
Nós homens que somos a imagem e semelhança de Deus, às vezes nos esquecemos que o Criador nos deu o dom da inteligência e do livre arbítrio, abusamos dos poderes que nos foram concedidos, e como para cada ação existe uma reação igual e em sentido contrário, isso é uma lei natural, possivelmente parte das mudanças no clima são provenientes da insensatez das nossas atitudes.
A Revista ISTO É dessa semana traz no chamativo de sua capa a seguinte mensagem “O clima já mudou. Você também vai ter que mudar de casa?”.
A natureza nos revela com seus sinais que precisamos nos unir para garantir a sobrevivência dos nossos descendentes, pois caso contrário, estamos fadados a extinção da nossa espécie.
4ª) Há medidas a serem tomadas pela população, afim de reverter esse quadro?
Sim. É preciso mudar de atitude com relação ao meio ambiente. Precisamos entender que para sobrevivência da nossa espécie e das outras, que também fazem parte da grande cadeia alimentar do planeta, temos que deixar o nosso egoísmo de lado e pensar no coletivo, pois ações que degradam o meio ambiente afetam a todos nós habitantes da Terra.
Precisamos ser mais solidários com o nosso próximo, que pode estar ao nosso lado, no Havai, em Machu Picchu,ou em qualquer parte do mundo. Enquanto não alimentarmos em nossos corações o amor ao próximo, e o espírito coletivo de solidariedade humana, nós habitantes do planeta Terra corremos o risco do desaparecimento predatório.
Nunca pense que o problema dos outros não é seu, veja a situação existente atualmente na grande São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, com toda sua grande infra-estrutura, vivendo os primeiros sinais do caos do clima. Fortes temporais descarregados em pequenas áreas em terrenos impermeabilizados pelo asfalto, tendo como conseqüência direta enxurradas e enchentes. Tivemos lá também no ano passado vendaval e tremor de terra.
Ontem o Jornal Nacional da Rede Globo, mostrou um bom exemplo vindo do Japão, de como resistir a todas essas intempéries, em Tóquio que enfrenta temporais, terremotos, tufões, etc, eles dispõem de grandes reservatórios submersos, que são monitorados 24 horas quando os níveis das águas chegam a um determinado ponto, comportas são abertas para encher os reservatórios submersos, evitando as destruições que observamos nas enchentes e enxurradas.
O mais importante nesse projeto de defesa contra catástrofes, é que a população local tem um papel fundamental para o sucesso do funcionamento de todo o sistema construído para a proteção contra enchentes: Não há lixo nas ruas para obstruir os sistemas de drenagem de águas pluviais da cidade. Pense nisso!
5º) O projeto Coastwatch é aberto ao público, para que possíveis interessados possam participar? Se sim como entrar em contato?
Sim. O projeto Coastwatch é aberto ao público. Quem mora no litoral ou em áreas ribeirinhas e tiver interesse em participar do projeto, pode acessar o Blog da ATA – Amigos da Terra e da Àgua, ou através do e-mail marcolyra2@yahoo.com.br , e teremos o maior prazer na medida do possível em ajudar na expansão do projeto aqui no Brasil.
Gostaria de registrar aqui que esse ano no Rio Grande do Norte a ONG NAVIMA realizou sua primeira Campanha no litoral potiguar.
Para finalizar gostaria de falar um pouco sobre a situação que se encontra hoje a paisagem do nosso litoral no Brasil. No livro Erosão e Progradação do Litoral do Brasil, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2006, existe um diagnóstico que comprova 40% de erosão costeira no litoral do Brasil, isso é preocupante, pois no litoral residem mais de 40% das populações dos estados litorâneos, e onde temos cerca de 50% do PIB nacional.
A elevação do nível do mar está em curso, e precisamos pensar em como enfrentar o problema. Existe muito por fazer, principalmente com relação ao uso e ocupação do solo. É preciso fazer o Zoneamento Econômico Ecológico Costeiro em todas as cidades litorâneas do Brasil, e incluí-los nos respectivos planos diretores das cidades para que possamos planejar as ações presentes e futuras. O cientista John Hunter em março/2007, após a reunião do IPCC, fez a seguinte recomendação que deixo para reflexão: “As cidades litorâneas devem erguer diques para conter as marés do futuro”.
Bom, espero que tenham gostado da entrevista e do tema em questão! Quem quiser saber mais sobre o projeto ou tirar alguma dúvida com Marco, seu e-mail é: marcolyra2@yahoo.com.br
Não se esqueçam de enviar para mim sugestões, histórias e tudo que vocês acharam diferente e interessante por esse mundo afora! Aqui, tudo ganha espaço!
Até o próximo post! ^^