Resolvi falar sobre diferenças culturais nesse post, como resultado de acontecimentos no meu fim de semana. Tem certas coisas que você vê e ouve falar que te fazem refletir mais sobre pessoas e fatos que nos cercam, nos fazendo ter plena noção de que tem horas em que julgamos o que é diferente de nós, sem saber o porque de todas essas diferenças. Se formos pensar bem, já somos diferentes daqueles em que moram na mesma casa que nós, sem falar então nos que moram no mesmo bairro, cidade, país e até em outros continentes. Todos sabemos disso, mas é realmente, na prática, difícil lidar com o que é diferente, e assim os desentendimentos e divergências culturais acabam existindo. E dessa forma começamos a julgar as pessoas, sem saber o que vem por trás de toda essa diferença.
Essa corrente de pensamentos começou ontem, durante a minha aula de alemão. Estávamos eu, Ju, Bárbara e João conversando sobre Natal. O João já morou por um ano na Alemanha, e a Bárbara morou por 6 meses no Canadá. Todos sabemos que é tradição no Natal, aqui no Brasil, a família toda se reunir na casa de algum parente, no dia 24 de Dezembro, e fazer aquela festa, com músicas, comes e bebes, ceia à meia-noite, reza e troca de presentes, com muitos abraços e contato físico. Perguntei então ao João como foi seu Natal na Alemanha, e como a família alemã costuma comemorar. Ele me disse que a as famílias também se reúnem no dia 24, mas que lá é de lei ir antes à Igreja, coisa que nem todas as famílias fazem por aqui, à meia-noite ceiam, trocam presentes, e logo vão dormir. Nada de festas longas e muito barulho. Já a Bárbara disse que seu Natal no Canadá foi um pouco mais triste. Disse que a cidade em que ficou se enfeita e prepara de forma maravilhosa para o Natal, mas que no dia 24 as famílias costumam não fazer nada. Ela me contou que ficou vendo filmes com sua mãe e irmã de intercâmbio, e que assim que acabou foram dormir, sem nada comemorar. Somente no dia 25 foram almoçar na casa de parentes, e aí sim rezaram e almoçaram. Tudo de forma bem formal, sem muitas delongas. Achei estranho e ela também disse ter se sentido triste nesse dia, mas parece que lá o natural é esse. Eles estranhariam bastante se viessem passar um Natal com nós brasileiros.
Passei o resto do sábado pensando nisso, até que à noite, antes de dormir, li um pouco do livro Berlin, 1945 que ando lendo. Meu namorado já o havia lido antes, e então costumamos conversar sobre alguns trechos que nos chamam a atenção. O livro retrata o pós guerra na Alemanha, ou seja, a ocupação dos aliados e as situações dificílimas pelas quais passou a população alemã. E justamente com relação a isso, meu namorado comentou que é devido a episódios como esse do pós guerra (estupros, roubos, assassinatos, agressões, e humilhações por parte dos aliados), e até mesmo durante a guerra (Nazismo e um ditador totalmente maluco e egoísta, como o Hitler), a população alemã, até hoje, é mais reservada e fria. Quando falamos de alemães vêm à cabeça de todos pessoas frias, arrogantes e sérias. Mas o que muita gente não sabe, é que são também pacientes e prestativos com quem chega de fora e fica perdido pela cidade ou tenta pronunciar a língua deles. É aí que temos que pensar que essa frieza e excesso de conservadorismo provavelmente deve-se há algum fato histórico. Fomos parar para pensar nisso ainda mais, após ler Berlin, 1945. Recomendo essa leitura, pois é através de fatos históricos que podemos perceber o que torna uma população com a cultura bem diferente da nossa.
Nós brasileiros nunca passamos por uma guerra em nosso território, mas estamos passando por uma guerra contra a violência, a corrupção e o tráfico. Será por isso que somos desconfiados? E se somos batalhadores e famosos por sempre darmos um jeitinho, será que é porque temos que nos virar, já que nosso país nem sempre consegue oferecer condições dignas a toda a sua população? Por outro lado, vivemos em um país ensolarado, bonito por natureza e sempre quente. Pode ser devido a isso também que somos alegres, falantes e calorosos. Já na Europa e Canadá o frio predomina em pelo menos 90% do ano, com tempo fechado. Podemos pensar que a seriedade pode vir a partir daí? Creio que sim, pois pesquisas dizem que o índice de suicídio nesses lugares é maior que em países tropicais. Dessa linha de raciocínio podemos tirar também conclusões sobre organização, pontualidade e formas de comemoração.
E hoje, vi um filme que só confirmou essa minha linha de raciocínio. O filme se chama O Contador de Histórias e se passa aqui em Belo Horizonte, na década de 70. No filme um menininho de rua acaba indo parar na FEBEM, por opção da própria mãe, e lá dentro acaba se tornando em um marginal e logo após em menino de rua. Sua sorte começa a mudar quando uma francesa que está no Brasil estudando resolve analisar sua história, para um trabalho na área pedagógica. Porém sua afeição pelo garoto a faz continuar ajudando, e o transforma em um homem honesto, estudioso e trabalhador. Hoje ele é considerado um dos dez maiores contadores de história do mundo. Dessa forma, fiquei pensando que o comportamento de toda uma vida pode mudar, se alteramos também o percurso de uma história. Se ficasse na rua como antes, poderia estar preso hoje. Como foi adotado e recebeu carinho, seguiu bons exemplos e aprendeu a ser uma pessoa de bem. E quem não pôde receber ajuda, que é o que acontece com a maioria? E quem realmente sofreu na vida, a ponto de se revoltar e partir para o lado criminoso? E quem realmente não tem outra opção?
Através desses três fatores em um final de semana, fiquei pensando que as diferenças existem, mas que por trás delas, existem histórias, existem porquês e existem divergências, e que nem sempre nosso destino depende de nós mesmos. Muitas vezes não temos escolhas, e em outras temos e seguimos, ou então deixamos de seguir pelo simples fato de que as circunstâncias não ajudam. Acredito que devemos pensar que devemos aceitar as diferenças, e que é um enriquecimento enorme para a alma ver o que tem por trás de cada história.
Obrigada, pessoal, pelos maravilhosos exemplos do fim de semana!
Se você tem uma opinião sobre esse assunto, deixe um recado ou me envie um e-mail: ro3086@yahoo.com.br
Até o próximo post!
Anônimo disse:
Adorei o comentário! Sou estudante de um curso de agente cultural e estou vendo esse assunto. Inclusive esse filme vimos em sala de aula.